terça-feira, 4 de janeiro de 2011

doll showcase



Fui fabricada a mão.. Cada traço, cada detalhe, dos pés da cabeça! Falando em pés, neles resolveram colocar esse sapato, de inicio.. bem apertado, cor de rosa. Eu nunca entendi esse negócio de boneca em um mundo rosa, eu faço voto do contraste para o mundo das bonecas onde tudo quanto é acessório, precisa ser rosa. Maas, eu não posso reclamar (bem que eu queria!) Mas não posso, boneca não fala, é. E as que falam, só falam porque são programadas para isso, sem vontade própria nenhuma. Outra coisa que eu nunca entendi, por que programam as bonecas para falar? Elas só dizem o que as crianças querem ouvir como: ‘eu te amo’ , ‘me leva para passear?’ Quanta besteira em um brinquedo só! Eu por exemplo, do contrario do que você deve estar pensando.. eu não falo! Te juro. Mas se eu falasse, ah se eu falasse.. ia ser umas poucas e boas para quem inventou de me colocar nessa caixa aqui, que negócio apertado! Há quem diga que bonecas como eu, não sentem, não sabem, não gostam, não ligam e não precisam.. Antes eu não quisesse nada! Eu quero tanta coisa, que só de olhar para esses meus olhos que brilham (é puro marketing) você não saberia descobrir. Eu quero tanto, que estou louca para sair daqui. Estou nessa vitrine a muito tempo, já até perdi as contas de horas, dias, semanas.. Há quem diga que boneca de loja é tudo igual, é naaada! Para mim existe uma grande diferença para as bonecas da vitrine e as da prateleira. As da prateleira são aquelas que as crianças, ao entrarem na loja, são as primeiras a pegarem, abraçarem, amarem, chorarem de birra fazendo a mãe comprar, mas largam em seguida quando acham uma melhor, as da prateleira são esquecidas e jogadas ao chão, coitadas. Sobre mim? Ah, essa vitrine não é das piores, mas eu daria tudo para estar no colo de alguma criança, sendo apertada e amada. Muitos olhares se passam por mim.. Algumas pessoas não querem me comprar, andam dizendo por ai que eu sou muito cara, eu concordo. Mas é só olhar para o meu brilho, para o meu cabelo e o tecido do meu vestido para saber que eu não sou qualquer boneca. Tenho uma origem diferente das outras e sabe o que eu acho? Acho que fui fabricada fora e me deportaram pra cá.. é, só pode! Não que eu esteja me gabando, mas.. É, no fundo as vezes me pego cansada, cansada! De estar nessa vitrine, sendo olhada, desejada, mas nunca adquirida por ninguém. Sabendo que quem é sempre levada para casa, são as da prateleira, acho que as bonecas de lá vivem muito mais emoções do que eu. Mesmo sabendo que o fim delas é sempre no chão, eu daria tudo para saber qual seria o meu fim, também. Será que por eu ser tão cara, as pessoas desistem de me comprar? Será que vão continuar preferindo a boneca em oferta? Aquela que se vai mais fácil, que se quebra tão rápido, e perde totalmente o brilho e toda aquela graça? Até quando a da prateleira vai ter mais emoções do que a da vitrine, que foi feita justamente para ser cuidada com o maior dos cuidados? Será que não percebem o quanto vale a pena me tirar dessa vitrine? Algumas crianças, apontando para mim, me fazem sentir o gostinho de como é ser desejada, mesmo que por alguns instantes, mas é claro, só até elas verem meu preço, desistem e correm para as bonecas em oferta. Elas me olham com tanto gosto que me faz ter a esperança de que vou sair logo daqui, que a minha vez também vai chegar. Eu estou acostumada, conheço essa rua como ninguém, talvez as pessoas daqui não me conheçam como eu as conheço. Vejo evidente a minha imagem refletida na vitrine e me pergunto: O que há de errado com a boneca mais cara da loja? Aparentemente, nada. Mas por que ela permanece intacta na vitrine? Tão intocável.. Mas apesar de querer sentir um abraço apertado, tenho medo de acabar no chão e as vezes desviada de um pisão, assim como as da prateleira, e é nessa hora que prefiro estar aqui, nessa vitrine: ninguém me toca, ninguém me pisa, ninguém me machuca. A criança que me quiser, que seja boa o bastante para me comprar. Feito humana, sinto minha pupila dilatar ao pensar que sair dessa vitrine nos braços de uma criança, em seguida vou ser levada para o parque e encontrar crianças que passaram pela vitrine, chegaram a me desejar, mas desistiram de mim quando viram o meu valor, desistiram e me esqueceram, e vou soltar uma frase bem clichê, que ouvi em frente a vitrine, por uma dona que com certeza havia acabado de sair de um amor não-correspondido, era mais ou menos assim: Eu fui o brinquedo caro, você foi a criança pobre!

Ser boneca é difícil, ainda mais ser boneca de vitrine!

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Seguindo em frente

As vezes o que precisamos está tão próximo.. Passamos, olhamos, mas não enxergamos. Não basta apenas olhar. É preciso saber olhar com os olhos, enxergar com a alma e apreciar com o coração. O primeiro passo para existir é imaginar. O segundo é nunca se esquecer de que querer fazer é poder fazer, basta acreditar.